Na última sexta-feira, dia 25 de Maio, pude conferir pela primeira vez o evento Chá de Cadeira promovido pelo Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira. A proposta é um bate-papo leve sobre um tema específico, sendo sempre servido um chá no final do período. Para essa edição, realizada no Museu da Gente Sergipana, o tema foi economia criativa e como esse conceito tão discutido nos últimos tempos pode ajudar a produção audiovisual, foco do Orlando Vieira.
Assim, para o evento, estavam presentes Cacau Farias, representante da Secretaria de Cultura do Estado de Sergipe; Gian Orsini, da cooperativa paraibana Filmes a Granel; e Luciana Guilherme, diretora da secretaria de Economia Criativa do MinC, além da mediadora Graziele Ferreira, coordenadora do NPD.
O evento foi extremamente pertinente, dado o tema e o período em que Aracaju vive, principalmente para a produção audiovisual. A presença de uma representante do ministério da cultura especializada em economia criativa e de um realizador que, junto com a sua cooperativa, pensou em uma forma inovadora de produzir filmes, construir uma marca e buscar novas formas de comercialização, foi simplesmente incrível. Há eventos maiores na cidade que nunca conseguiram um quadro de convidados tão interessante. No entanto, fiquei levemente decepcionado com o bate papo. Cada um conversou, separadamente, sobre seus trabalhos e praticamente não houve interação entre os discursos, muito menos discussão sobre o conceito. Basicamente, cada um falou em que está trabalhando.
Gian Orsini comentou a fantástica ideia que está permitindo a realização de 20 curta-metragens paraibanos de baixíssimo orçamento, por 20 realizadores diferentes, com especialidades diferentes. Tudo isso através de uma forma inovadora de se pensar a produção de filmes. Os 20 artistas da cooperativa Filmes a Granel conseguiram lançar uma marca autêntica e diferente no mercado, que com certeza vai facilitar a comercialização do produto, além de explorar uma forma de produzir filmes inédita e muito interessante.
Já Luciana Guilherme, comentou o programa Brasil Criativo, que está mobilizando toda a secretaria de economia criativa e pretende, caso aprovado, uma integração entre todos os ministérios. Algo ambicioso e bastante difícil de ser colocado em prática, mas na minha opinião é o jeito certo de se propor medidas para essa área. Economia criativa é interdisciplinar no seu próprio conceito e perpassa diversas áreas trabalhando cooperativamente para um objetivo. Infelizmente, não houve tempo para explicar o plano a fundo, mas fiquei muito empolgado com o pouco que conheci. É sempre interessante saber o que está sendo planejado dentro dos ministérios e é uma informação que não chega tão facilmente a todos. Pelo menos não dessa maneira.
O depoimento da representante da secretaria da cultura de Sergipe nem ao menos abordou a economia criativa e se manteve em comunicar as realizações da SeCult. Essa, como é comum em secretarias do tipo, continua se mantendo no papel de produtora cultural e de eventos, sem ao menos pensar formas inovadoras de contribuição social através da cultura. Economia criativa? Longe de ser uma das pautas discutidas. Uma pena, já que o estado tem muito a ganhar com esse tipo de pensamento e através dele poderia atingir nichos de mercado interessantes, tanto nacionalmente como globalmente.
Por fim, houve um tempo para perguntas de uma platéia não muito lotada, mas pelo menos aparentemente bastante interessada. Ainda assim, fiquei desapontado com o nível da discussão, por dois motivos. O primeiro deles é que como a discussão se baseou unicamente nos trabalhos desenvolvidos pelos convidados, e não em um debate sobre a área, a impressão que tive foi que a platéia confundiu economia criativa com empreendedorismo baseado em produção cultural. Muitos dos questionamentos pendiam para o lado do segundo conceito, o que me deu a impressão que nem todo mundo conseguiu absorver do que, de fato, se trata economia criativa. Outro ponto que me deixou frustrado foi o clima reacionário e averso a inovações do público. Que, ao que parece, prefere se manter no esquema insustentável dos financiamentos públicos para realizar trabalhos cinematográficos, por exemplo. Não sei se de fato esse era o sentimento geral, mas o questionamento constante sobre as verbas públicas e se Sergipe estaria incluído no pacote, me fez acreditar que quase ninguém estava disposto a realmente discutir outras vias.
De qualquer maneira, o evento foi mais que louvável simplesmente por trazer convidados interessantes e promover um debate (ou pelo menos tentar) tão atual. O Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira vem realizando um trabalho admirável nos últimos anos, possibilitando o fomento de fato da área do audivisual no estado. Parabenizá-los pelo trabalho, e não só pelo Chá de Cadeira, é o mínimo que posso fazer aqui. Sem dúvida alguma pretendo frequentar mais eventos do NPD abertos ao público como esse.
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