4.2.14

Começo I, por Nathalie Quintane

"Exceto um cirurgião operando a si mesmo, como H. a caminho do pólo Norte abriu ele mesmo a sua barriga, segurando as pinças de vez em quando na boca, é dado a poucos cortar e levar à altura dos olhos um de seus próprios pedaços.





Exceto um espeleólogo sem lanterna, tal como B. em busca pela décima-quarta vez da fonte do Sorgue, e não tendo pensado em despejar antes na água o E 414 que permite segui-la, é dado a poucos tocar assim continuamente a escuridão.





Exceto um biólogo perdido por acaso num departamento de física atômica, tal como D. apoiando seus olhos no túnel do microscópio, é dado a poucos de a esse ponto estremecer descobrindo como a matéria gravemente se decompõe.





Exceto uma enfermeira julgada incapaz por uma outra enfermeira, e reservada por consequência às tarefas mais ingratas, limpando os doentes lavando-os sem descanso, é dado a poucos testar tantas vezes as qualidades intrínsecas da pele.





Exceto um antigo contorcionista enrijecido pela idade, não pensando mais no seu corpo senão quando toma banho, e não tendo mais consciência dele senão quando corta o dedo descascando uma maçã, é dado a poucos lembrar-se com tanta amargura e nostalgia da primitiva flexibilidade dos membros.





Exceto um bailarino profissional convertido em saltim-banco, de pé diante de Saint-Sulpice, maquiado de verde e que, tendo na mão um cone, imita a estátua da liberdade, é dado a poucos perseguir com tanta constância uma disciplina espetacular.





Exceto um operário na sua sexta-feira, plantado diante da sua máquina esperando o bate-estaca cair, a cabeça sete horas transformada em barulho, é dado a poucos concentrar-se inteiramente na ideia do medo de uma mão derrapar.





Exceto um jovem atleta supertreinado antes de sua qualificação, e chegado depois (nomes de saltos) ao fim do travessão, é dado a poucos sentir que o seu pé é de madeira."

Eu e N. Quintane estamos só começando.

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