"Que eu amo ver, indolente amante,do corpo que excele,
como um tecido vacilante,
transluzir a pele!
Sobre o teu cabelo profundo,
de acre, perfumado,
mar odoreante e vagabundo,
moreno e azulado,
como um navio que desponta,
ao vento matutino
sonhadora, minha alma se apronta,
para um céu sem destino.
Teus olhos, que jamais traduzem
rancor ou doçura,
são jóias frias onde luzem
o ouro e a gema impura.
Ao ver teu corpo que balança,
bela de exaustão,
dir-se-ia serpente que dança,
no alto de um bastão.
Ébria de preguiça infinita,
a fronte de infanta
se inclina vagarosa e imita
a de uma elefanta,
e teu corpo pende e se aguça
como escuna esguia,
que às praias toca e se debruça
sobre a espuma fria.
Onda crescida da fusão,
de gelos frementes,
se a água de tua boca então
aflora em teus dentes,
bebo um vinho que me infunde
amargura e calma,um líquido céu que difunde
estrelas em minha alma!"
... no final de todo o processo, ou eu mato Baudelaire ou Baudelaire me mata.
[02.07.008]
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