Sei que é extremamente comum encontrar estudantes universitários bastante insatisfeitos com aspectos do seu curso. Em Aracaju, cursei dois cursos diferentes em duas universidades com realidades bastante diferentes e pude perceber o melhor e o pior de cada uma delas. A conclusão universal que pude tirar foi que não há um curso perfeito. Se ele não for extremamente específico e o estudante não souber exatamente o que ele quer, o que eu acho bastante difícil, haverá insatisfação.
Outra coisa que pude notar é a lentidão da academia para responder as mudanças sociais da pós-modernidade. Está tudo muito rápido mesmo. As discussões sociais, ferramentas, tecnologias e conceitos mudam na mesma velocidade que todo o resto. Acho, e posso muito bem estar errado aqui, que o grande desafio da universidade é deixar de ser esse paquiderme lento e propor respostas mais rápidas, grades curriculares flutuantes ou algo do tipo, sem perder a formalidade científica que a define. Um curso não pode mais continuar estático e imutável num período de 4 anos, ou até pode, desde que sejam propostos outros métodos para adicionar dinamicidade a tudo. Falando a nível da minha cidade, por exemplo, acho incrível o quão pouco as novas ferramentas são usadas, tanto pelos alunos quanto pelos professores, que para mim devem muito mais ter o papel de fomentadores de interesse de que qualquer outra coisa. Mas isso já é outra questão, para outro momento.
O que pretendo discutir, desde que resolvi escrever esse texto, foi na verdade a aparente incapacidade de muitos designers gráficos em se expressar através de textos. Foi tentando exercitar esse lado, que comecei esse blog. Não pretendo achar nenhum culpado, e tenho consciência de que posso estar errado em muitos pontos do que acredito, mas vou tentar explicar aqui por que eu acho que isso acontece bastante na precária cena do design em Aracaju.
Existe, na minha opinião, uma incongruência entre o ensino fundamental, médio e o ensino superior em comunicação visual e design. Tive a oportunidade de estudar em colégios considerados bons em Aracaju e percebi a deficiência em todos eles (e em toda a cidade/comunidade como um todo) com relação ao ensino e a valorização de arte. Não existem bons designers que não possuam um bom senso estético e não existe bom senso estético sem gosto pela arte. É algo que não se aprende numa sala de aula e algo que não se incorpora em dois ou três anos... demora uma vida inteira de olhar atento para ir se refinando aos poucos. Como produzir bom design se a população com a qual se pretende comunicar, no caso específico de Sergipe, tem um vocabulário visual pífio, por culpa do pouco incentivo à arte?
Imagino que a solução que a universidade encontrou pra isso foi direcionar toda a discussão para a importância da arte, do método de projeto, para a produção gráfica e visual... o que acaba por deixar de lado discussões sobre um elemento visual em si, por exemplo. O que um designer tem a dizer sobre um símbolo? Conseguiria ele traduzir em palavras o que a imagem comunica? Ele consegue, depois de graduado, escrever de forma clara para explicar os conceitos que utilizou no projeto a um cliente leigo?
Essa é uma das minhas várias preocupações com relação ao curso e a realidade da comunidade em que ele se encontra inserido. Acho que falta uma valorização da produção textual sobre design, falta valorização de leituras teóricas e a impressão que fica é que alguns professores se preocupam em passar o conteúdo de forma fácil, mas às vezes, superficial. Se lê e se escreve muito pouco num curso de comunicação visual. E talvez devesse ser assim mesmo. Mas imagino que quando se fala em Sergipe, onde a cultura do desgin ainda é muito subdesenvolvida, acredito que esse elemento não poderia ser deixado de lado assim tão naturalmente.
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