12.4.11

"Apropriação"

Há alguns dias atrás li em um blog que acompanho desde 2009, uma pequena discussão sobre apropriação cultural. De forma bem desprentesiosa, a autora trouxe à tona um tema que é bem relevante para a moda - tema do blog - e que é pouco discutido: apropriação cultural.
Não só moda, mas no design como um todo, a apropriação cultural está sempre presente. No caso do design gráfico, está presente como uma forma de possibilitar uma melhor comunicação com o público. É um conceito da Antropologia, e no caso, especialmente importante para a Antropologia Visual.
Mas o fato é que a discussão foi direcionada à um foco específico: a dos americanos nativos, os índios. Isso me interessou especialmente por recentemente ter me apaixonado pelas pinturas corporais e pelos padrões usados pelos índios brasileiros, em especial pelos tupiniquins e tupinambás. Mas isso não é um fenômeno só meu, aparentemente a cultura visual indígena em geral está em voga já há algum tempo. Na moda estão presentes nos padrões têxteis, cocares, penas coloridas, etc. No meu caso, já usei pinturas indígenas no rosto algumas vezes ao sair de casa. Mas a questão é: se apropriar de algo que não é naturalmente nosso e utilizar fora do contexto apenas por estética não seria desrespeitoso com a cultura original?
O conceito de apropriação cultural é exatamente esse: utilizar algo que não é naturalmente de uma cultura, fora do contexto original. Não é encarado como algo desrespeitoso desde que a nova intenção não seja desrespeitar a cultura original.
Eu prefiro enxergar mais como uma homenagem. Há tempos atrás ouvia falar muito mais na causa indígena do que hoje. Não sei como está a situação das reservas, nem como anda o nível de preservação cultural dentro das próprias tribos. Mas acho tudo muito bonito: não só a estética visual, como hábitos e alguns elementos da filosofia indígena.
É mais fácil para mim justificar essa apropriação, pois no Brasil a mistura cultural e racial foi grande. Há índios na minha árvore genealógica de fato. Nenhum descendente direto, mas eles estão lá. Já em outros lugares, imagino que exista uma outra situação envolvida. Isso porque os ancestrais das pessoas que hoje usam referências indígenas, foram os responsáveis pela destruição dessa mesma cultura.
Assim, diferentemente da discussão original que motivou esse texto, que era inconclusa e convidava todo mundo a deixar suas próprias idéias, eu acho que posso deixar aqui minha própria conclusão.
Eu mesmo acho o máximo que esse tipo de referência esteja em voga. Encaro como uma forma bonita de lembrar que, de certa forma, nós também somos índios, e de recordar a cultura deles, mostrando que ela continua presente, mesmo que aplicada em um contexto diferente. Também não acho as gerações atuais tenham qualquer coisa a ver com a dominação que ocorreu há séculos atrás. Mesmo que o intuito seja apenas parecer cool em uma festa, acho muito legal que ocorra esse tipo de diferenciação e até incentivo, desde que tenha fundamento, qualquer apropriação que seja. 

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